BIOGRAFIAS
Aqui você encontrará nomes de personalidades importantes da imprensa negra, tanto dos primeiros veículos, quanto dos atuais. Entre eles estão jornalistas, redatores, tipógrafos, ativistas, historiadores e pesquisadores sobre a imprensa.
Não é exagero dizer que essas pessoas são totalmente ignoradas pela grade do curso de jornalismo, pelos grandes conglomerados de mídia e por uma parte considerável da comunidade jornalística do país. Este é um lugar para celebrar a história dessas pessoas, deixando seu legado e trabalhos vivos.
Abdias do Nascimento
Foi um dos ativistas mais completos do nosso país. Ele foi ator, poeta, escritor, jornalista, professor universitário, político e ativista dos direitos civis e humanos das populações negras brasileiras. Fez parte da Frente Negra Brasileira, que teve suas atividades interrompidas pela ditadura do Estado Novo durante o governo de Getúlio Vargas – Abdias, inclusive, foi preso por protestar contra o presidente. Em 1944, fundou o TEN – Teatro Experimental do Negro.
No jornalismo, fundou o jornal Quilombo, periódico do TEN, que teve 10 edições e circulou entre 1948 e 1950. Em 2003, Abdias lançou um compilado de todos os números publicados do jornal.
Como político, Abdias foi o primeiro parlamentar a defender cotas raciais e propor projetos de lei que buscassem igualdade para os negros num Brasil racista.
Alcino de Moraes
Um dos fundadores e financiadores do Getulino.
Alfredo de Souza
Um dos fundadores do O Exemplo.
Ana Flávia Magalhães
É bacharel em Comunicação Social/Jornalismo pelo Centro Universitário de Brasília, doutora em História pela Unicamp, mestre em História pela UnB e licenciada em História pela Unip. Desenvolve pesquisas sobre imprensa negra, a experiência de pensadores negros na imprensa do século XIX, abolicionismo e cidadania negra no período escravagista e pós abolição. Entre seus livros publicados estão Imprensa Negra No Brasil do Século XIX (2010) e Escritos da Liberdade Literatos Negros, Racismo e Cidadania no Brasil Oitocentista (2019). Ana também é integrante do coletivo “Historiadorxs Negrxs”.
Arthur Andrade
Um dos fundadores do O Exemplo.
Arthur Carlos
Jornalista e abolicionista. Foi um dos fundadores do jornal A Pátria. Atuou no Movimento dos Caifazes, grupo formado por tipógrafos, artesãos, pequenos comerciantes e ex-escravos, que se organizavam na irmandade de Nossa Senhora dos Remédios e planejavam fugas em massa de escravizados em fazendas e cidades.
Aurélio Bittencourt Júnior
Foi um dos fundadores do O Exemplo. Irmão de Sérgio Bittencourt e filho de Viríssimo de Bittencourt, homem negro nascido livre, que alcançou espaços de destaque na vida cultural e política de Porto Alegre, trabalhando em diversos veículos da imprensa local. Aurélio, além de atuar no O Exemplo, se formou em bacharel pela Faculdade de Direito de São Paulo e atuou como juiz em São Leopoldo e Porto Alegre.
Benedito Florêncio
Jornalista, foi um dos fundadores do Getulino, na época também ajudou a fundar os jornais União e Baluarte.
Bianca Amorim
Historiadora e mestra em educação. Produziu uma pesquisa pela Universidade de São Paulo (USP) sobre como a imprensa negra era pautada pelo olhar masculino no início do século XX.
Christino José de Andrade
Um dos fundadores e financiadores do Getulino.
Davi da Fonseca Pinto
Dono da Typographia Paraguassu, responsável pela publicação do jornal O Brasileiro Pardo.
Esperidião Calisto
Foi um dos fundadores do O Exemplo. Além de colaborar em alguns periódicos de Porto Alegre, era barbeiro e acolheu a iniciativa jornalística em seu estabelecimento e local de trabalho.
Etiene Martins
Jornalista e publicitária. Especialista em Comunicação e Saúde e mestranda em Comunicação na UFRJ. Tem textos publicados em veículos como The Intercept Brasil, Estado de Minas e Portal Geledés. Integra o Coletivo Lena Santos, formado por jornalistas negras e negros de Minas Gerais, que lançou em 2022 o Guia para um Jornalismo Antirracista “Herdeiras e Herdeiros de Luiz Gama”. É criadora da Livraria Bantu, em Belo Horizonte, que foca em obras feitas por autoras e autores negros.
Francisco de Paula Brito
Trabalhou desde cedo como tipógrafo, atuando como aprendiz na Tipografia Imperial e Nacional e, mais tarde, na Tipografia de René Ogier e na de Seignot-Plancher, fundador do Jornal do Comércio, em que foi compositor, diretor das prensas, redator, tradutor e contista. Em 1831 fundou sua própria tipografia, a Tipografia Fluminense de Brito, responsável pelo pioneiro O Homem de Cor – que pouco depois passou a se chamar O Mulato ou O Homem de Cor – do qual ele foi editor. Foi organizador da Sociedade Petalógica, reunião que tinha como intuito identificar e desmascarar mentiras que rondavam o cenário político da época.
Também teve grande contribuição na literatura brasileira, ajudando a expandir o comércio de livros. Em sua tipografia foram impressas obras como Antônio José ou o Poeta e a Inquisição (1839), de Gonçalves de Magalhães e O Juiz de Paz na Roça (1838) e A Festa e a Família na Roça (1840) de Martins Pena. Os primeiros trabalhos de Machado de Assis também saíram pela tipografia e receberam apoio de Paula Brito, entre eles estão o poema “Ela” (1855), a tradução Queda que as mulheres têm para os tolos (1861) e a peça Desencantos (1861).
Gervásio de Moraes
Poeta e jornalista, foi um dos fundadores do Getulino, na época também atuava no jornal União.
Guilherme Bertolino
Historiador, pesquisador e educador, formado pela PUC-SP, hoje é integrante do coletivo Fora da Garrafa que estuda, pesquisa e promove oficinas sobre sacys com o objetivo de ensinar a população, de forma lúdica, sobre essa divindade dos povos originários. Ele também pesquisa africanidades e a imprensa negra brasileira.
Ignácio de Araújo Lima
Jornalista e abolicionista paulistano. Foi um dos fundadores do jornal A Pátria e membro da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.
José Cupertino
Foi redator secretário do jornal O Progresso. Cupertino também foi tipógrafo.
José Ferreria de Menezes
Foi advogado e jornalista. Fundou a Gazeta da Tarde, jornal que focava no combate à escravidão, em julho de 1880.
José do Patrocínio
José Carlos do Patrocínio, também conhecido como Prudhome, Notus Ferrão, Justino Monteiro, Pax Vobis e Pombos Correios, foi um jornalista, abolicionista, poeta e escritor brasileiro. Iniciou sua carreira no jornalismo em 1877, quando se tornou redator da Gazeta de Notícias, assinando a coluna “Semana Parlamentar” como Prudhome. Nesse período, começou a campanha pela abolição, junto com outros jornalistas, integrantes da Associação Central Emancipatória.
Anos mais tarde, se tornou diretor da Gazeta da Tarde, cargo que ocupou até fundar o jornal A Cidade do Rio, que teve sua publicação interditada após a proclamação da República. José, que era anti-repuplicano e chegou ao ponto de se exilar, no final de sua vida, colaborava nos jornais O País e A Notícia. Também é um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.
Lélia Gonzalez
Foi uma intelectual, autora, política, professora, filósofa e antropóloga brasileira e é considerada a mulher que revolucionou o movimento negro.
Foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado contra Discriminação e o Racismo (MNUCDR), em 1978, que atualmente é o Movimento Negro Unificado (MNU). Também foi uma das fundadoras do coletivo Nzinga ao lado de Cláudia, Helena, Bárbara, Mariza, Valéria, Jurema, Beth e Carmen, que daria vida ao Nzinga Informativo, importante veículo da imprensa negra voltado ao feminismo negro.
Lélia foi uma das mulheres que demarcaram o lugar que as mulheres negras teriam na sociedade e seu legado serve de guia até hoje.
Lino Guedes
Poeta e jornalista, foi um dos fundadores e editor-chefe do Getulino, na época também atuava no jornal União.
Luiz Gama
Luiz Gama, também conhecido como Getulino e Barrabás, foi um advogado, jornalista, abolicionista, orador e escritor brasileiro. É conhecido como Patrono da Abolição da Escravidão do Brasil, sendo responsável pela liberdade de cerca de 500 escravizados com sua atuação como advogado. Como jornalista, foi aprendiz de tipógrafo do jornal O Ipiranga, e redator do Radical Paulistano. Foi responsável pela redação de O Polichinelo – primeiro periódico político satírico da cidade de São Paulo. Também integrou outros dois jornais satíricos: O Cabrião e O Diabo Coxo.
Marcílio Freitas
Um dos fundadores do O Exemplo.
Maria Firmina dos Reis
Filha e neta de escravas alforriadas, foi aprovada em um concurso público para a Cadeira de Instituição Primária da vila de São José de Guimarães em 1847. Anos mais tarde, em 1880, fundou a primeira escola mista e gratuita do Maranhão, sendo também uma das primeiras do Brasil. Ela é autora do livro Úrsula, publicado pela Typographia do Progresso, e que é considerado o primeiro romance abolicionista escrito por uma mulher brasileira, e, possivelmente, o primeiro publicado por uma mulher negra latinoamericana.
Firmina teve grande atuação na imprensa maranhense, publicando poesia, ficção, crônicas e até enigmas e charadas. Segundo conta no site Literafro da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, ela teria colaborado em diversos jornais literários, como A Verdadeira Marmota, Semanário Maranhense, O Domingo, O País, Pacotilha, O Federalista e outros.
Martino
Um dos fundadores e financiadores do Getulino.
Pedro Borges
Jornalista formado pela UNESP Bauru. Em 2015, junto com colegas de universidade, fundou a Alma Preta, agência jornalística especializada na temática racial. Fez parte do Profissão Repórter em 2021. Atualmente é editor-chefe da Alma Preta e colabora com a Band.
Maurício José de Lafuente
Era dono de uma gráfica e frequentava a Sociedade Petalógica, organizada por Paula Brito. Foi preso em outubro de 1833 e sua prisão movimentou a imprensa da época. O jornal O Homem de Cor alegava que a prisão teria sido injusta e que Lafuente só fora preso por ser pardo, enquanto o jornal Universo o considerava vadio, desordeiro e perturbador do sossego público.
Sérgio Bittencourt
Foi um dos fundadores do O Exemplo. Irmão de Aurélio Bittencourt Júnior e filho de Viríssimo de Bittencourt. Desenvolveu carreira no mundo das letras e da política.
Theophilo Dias de Castro
Foi redator chefe e um dos fundadores do Jornal O Progresso – Órgão dos Homens de Cor. Foi juiz provedor da Irmandade do Rosário dos Homens Pretos.
Willian Lucindo
Historiador pelo Centro Universitário FIEO, mestre em história pela Universidade de Santa Catarina e doutor em história pela Universidade Estadual de Campinas, ele é pesquisador e educador, dá aulas para o ensino fundamental II e pesquisa sobre imprensa negra brasileira, Brasil República, pós-abolição, educação, associações negras e populações negras. Também integra o coletivo “Historiadorxs Negrxs”.
Yasmin Santos
Ativista, escritora e jornalista formada pela UFRJ. Escreve reportagens, ensaios e resenhas literárias e já colaborou em veículos como Folha de S.Paulo, Quatro Cinco Um, Piauí, Elle Brasil, GQ Brasil, The Intercept Brasil, Nexo Jornal e UOL. Produziu um trabalho de conclusão de curso intitulado “Letra Preta: A Inserção de Jornalistas Negros no Impresso”, apresentado em 2019 e que teve grande repercussão. Também tem um texto chamado Letra Preta, publicado pela Piauí, com grande destaque.
Fontes*:
A Gazeta da Tarde e as peculiaridades do abolicionismo de Ferreira de Menezes e José do Patrocínio – por Ana Flávia Magalhães Pinto;
Arquivos pessoais e redes sociais;
Club Republicano dos Homens de Cor: uma face da participação política negra no pós-abolição (1889-1893) – por Ana Flávia Magalhães Pinto;
“Literafro” do site da Faculdade de Letras da UFMG;
Livro “A Abolição” – por Emilia Viotti da Costa;
Livro “Escritos de Liberdade: Literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista” – por Ana Flávia Magalhães Pinto;
Livro “Imprensa Negra no Brasil do Século XIX” – por Ana Flávia Magalhães Pinto;
*Não conseguimos encontrar mais informações sobre alguns nomes